Stranger Things ainda tem muito para contar (2° Temporada) - 24 Quadros

06:24 Unknown 0 Comments

Lembro-me de eu sentado lá no auditório vendo uma logo gigantesca da Netflix lá no palco, estava ansioso, feliz; esperando coisas fodásticas. Muita coisa já tinha rolado, mas esse painel em especifico tinha 4 horas. 4 HORAS. Certeza que ia passar alguma coisa de Stranger Things – olha o sucesso dessa série!, eu pensei. Num primeiro momento não teve nada de mais sobre ela, mas as crianças haviam deixado um recado, desculpando-se por não poderem estar lá conosco, desfrutando daquele ambiente exultante. Disseram que não puderam ir porque estavam filmando a segunda temporada.
Quase um ano depois eu liguei a TV, entrei na Netflix e ela estava lá, esperando por mim. A 2° temporada já estava disponível. Quase 9 horas de história inédita.
Muito bem, preparem-se que essa e uma análise desta temporada. Acredito que, apesar do curto tempo, já tem muita gente gente que já assistiu. Mesmo assim, vou dividir em duas partes essa análise. Para aqueles que ainda não viram, vou falar apenas das minhas impressões e tudo que senti assistindo na 1° parte. Falarei daquilo que vocês devem esperar ao darem play. A 2° parte, a mais extensa, terá spoilers e será uma análise mais profunda e densa. Não diga que não avisei.



SENTINDO E APRESENTANDO A 2° TEMPORADA
Vamos lá!!!! Quero que saibam que eu estava muitíssimo empolgado com a segunda temporada. Os trailers me davam arrepios! Ansioso, dei o play. Sabe o que eu encontrei?
Muito bem... sabe aquelas perguntas básicas que fazemos: será que manterá o nível?, vai melhorar?, será que vai ser um desastre? Sei que só queria que desse certo, fizesse sucesso, pois queria ver mais e mais da série, ver todas aquelas crianças reunidas de volta.
Queria ver Eleven, quem não queria?
E vocês terão tudo que quiseram. Terá novamente um alto nível de qualidade narrativa, ficção científica, poderes, amizades, química entre os personagens, muitos sentimentos e uma puta trilha sonora. Mas ele vai além, bem além. A cara da segunda temporada é outra. Não digo que é muito diferente, mas a série parece mais madura, concisa, mais confiante no que estava fazendo. Ela amadureceu de fato, seguindo também o crescimento dos personagens, principalmente das crianças. Ela também cresce de tamanho, mais personagens, mais tramas envolvidas, os perigos aumentam e os momentos de crises são maiores; concretizando, enfim, todo um universo que será explorado sem dó nem piedade nas próximas temporadas. Além de tudo o mais, essa foi uma das partes que mais me satisfez: saber que terá muita história para contar. A sensação de assistir é de que os personagens podem sempre crescer, seguir caminhos diferentes, se reencontrarem, brigarem, separarem, no entanto agora sei que eles estarão lá. Sei qual será o núcleo das histórias que se seguirão... e nada impede de novos personagens aparecem, como bem sei que vão, assim como na vida mesmo, em que de fases em fases nos relacionamos com pessoas novas. Amizades antigas apagam, novas surgem. Isso a série mostrou muito bem. 



Apesar de no começo ficarmos aflitos com isso, podemos sentir uma paz interior, pois, apesar das separações, está tudo bem, os personagens vão saber lidar com si mesmos, com os outros e com a vida. Eles vão superar, vão se reerguer, vão evoluir, crescer. Esse sentimento de inevitabilidade e insegurança nem sempre são ruins. Fiquem tranquilos, tudo bem? Portas se abrem, podem trazer coisas péssimas, mas também podemos fechá-las.
As coisas estão diferentes em Hawkins, sem dúvida. No entanto elas são as mesmas. Os personagens, apesar de seus crescimentos internos, são seguramente os mesmos. Você sente isso, do começo ao fim, e de todos eles. Você já os conhece, é um sentimento amigável de reencontrá-los um ano depois. Estão lá com todas as suas brincadeiras, manias e diversões, com todos os lutos e sentimentos ruins. O universo de Stranger Things aumentou, mas reencontrá-los será a mesma sensação de confiança e certeza. A série pode ir para outros ares, explorar outras formas de narrativa, outros gêneros e estilos. Mas eu tenho certeza no que vou encontrar lá. O DNA será o mesmo.


O arco é simples, ok? A história não tem nada de complexa, e a deixa do suspense ficou um pouco de lado para abrir alas para a expansão desse universo. Em vez de querermos saber se o Will está vivo ou morto – ou todo o ar de acobertamento sobre o caso –, encontraremos uma história mais aprofundada. Exemplos: Eleven foi o 11° experimento, quem são os outros? Como saber lidar com as perdas? Até onde vai nossa crença, nosso senso de justiça, nossa moral? Os personagens se tornaram mais densos, mais complexos, serão testados, estabelecidos na trama, encontrarão o seu lugar, seu papel, encontrarão a si mesmos.
Fiquem tranquilos, ok? Vocês vão encontrar o que estavam procurando, só que as coisas agora estarão maiores. Confiem em mim! A série está maravilhosa, ela é empolgante com os mistérios sendo resolvidos, nos faz chorar com o reencontro entre os personagens, nos faz rir com o modo que todos se comportam, principalmente do tão orgânico que é as relações são. Se você for maratona, não vai ficar cansado no meio. Se decidir ver um episódio por vez, você vai gostar também. Ela funciona das duas formas.



COMPREENDENDO OS SIGNIFICADOS
Agora à parte mais divertida! Quero dizer primeiramente que não tem como não amar a Eleven. Sério, não tem. Em todo momento que ela aparece, rouba a cena. 


Achei o seu arco necessário e foi muito bem feito – encaixou como uma luva para a série. Quando ela tem o primeiro choque de ciúmes e inutilidade ao achar que Mike não precisava mais dela, ela aceitou o mistério de encontrar sua mãe, e desde aquele momento pareceu decidir seguir o caminho, sozinha, do autoconhecimento. E o mais legal – para ver como uma simples ação significa tantas coisas para série – é que ela não foi apenas para saber quem ela era, isso é, perseguir o seu passado e descobrir de onde vem, quais suas conexões; mas, a partir desses atos, ela também descobre quem ela é naquele mundo. É divertido e lindo ver as reações dela em contato com o mundo, principalmente quando vai para a cidade grande. 


Quando Eleven disse que tem que voltar para os amigos não é nada parecido com a da primeira temporada, que ela sabe que tem que voltar para os amigos. Ali aquela sua primeira jornada acaba – quando seu antigo mundo se confronta com o novo (a cidade grande e sua irmã) –, e El está diferente do começo. Ela não volta porque sente falta ou porque acha que fez coisas erradas e tem que consertar tudo. Volta porque passou a entender o que é uma amizade (e isso também é engolir alguns ciúmes), e seu dever como uma amiga. Eleven se aceitou, passa a aceitar seus poderes e não se vê mais como uma aberração. Sabe seu papel. E sabe que tem que fazer de tudo para cumprir ele.
O melhor de tudo é que ela quer e tem realmente vontade disso. E isso é uma grande evolução.
O desfecho é tanto quanto metafórico e autoexplicativo para tudo. O portal se fecha, e com ele parece ir todas as inseguranças; todos os erros são perdoados, as falhas são compreendidas. Não há espaço para julgamento, e sim para aceitação de quem somos – o que cada personagem é. A série passa o sentimento de que tudo bem errar, tudo bem ficar perdido por um tempo e não saber quem você é e seu lugar nesse mundão, tudo bem você ser diferente dos outros. Uma hora ou outra você encontra seu lugar, seja entre um grupo de amigos que ama jogar Rpg, jogar fliperama e ser nerd; fazer o papel de irmão mais velho, dar dicas e confiança para alguém; ser o protetor e pai ou ser amada e amar. A sensação com o final da 2° temporada é que está tudo bem, confie no seu otimismo, as coisas vão se ajeitar, as coisas vão melhorar. Fique bem, ta bem?

Se a trama parece simples, nada tira dela todo o seu peso metafórico. Quem leva a história dessa vez são os personagens. É deles que estamos interessados, é para eles que vai todo nosso amor. E dá certo! Por que não daria?
Na análise da primeira temporada busquei compreender porque a série fez tanto sucesso, tentando combinar uma série de fatores que causaram um excesso de sentimentos em nós. Agora nessa segunda temporada parece ter ficado mais claro: os personagens... mas há outro fator tão incrível quanto. Se a série transcende camadas de gêneros ficcionais é porque, apesar da imensa carga emocional vinda dessas figuras, ela consegue manter sua identidade de ficção científica. Os cientistas, os teóricos conspiratórios, o laboratório, todo o papo de ciência, as descobertas e os perigos dela, dimensões alternativas e o surgimento de um antagonista imensamente mais poderoso que o Demogorgon.


Quando nomeiam o novo inimigo de Devorador de Mentes, tudo mais fez sentido. O gostinho do Rpg e toda a coisa nerd volta com tudo. O perigo não é apenas físico, como na primeira temporada. Não é apenas medo de morrer ou da dor física. Agora há um perigo psicológico. Uma Consciência Coletiva que domina as mentes é assustador. Não podemos impedi-la com força. Não podemos derrotá-la ou matá-la! Não sabemos nem onde ela está: como enfrentamos isso? Durante mais da metade da temporada eles mal sabem quem estão enfrentando. 


Esse elemento de sci-fi/ fantasia acrescenta novamente à carga emocional dos personagens um saborzinho alá primeira temporada, aquilo tudo de suspense e coisas de outras dimensões (eu também lembrei bastante um dos episódios de Rick e Morty). Entretanto, da um novo patamar à série. Realmente é assustador ter um inimigo como aquele, ainda mais na cena final que o mostra ali, tão perto de todos, observando tudo que está acontecendo (e até quando ele se dando conta de Eleven fechando o portal). De repente perceber que, como toda ficção científica, não sabemos nada sobre o mundo, e que as coisas são muito maiores do que achamos, percebemos que, Stranger Things mantendo seu DNA, pode ir para onde ela quiser.
 Há muita história para se contar.


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Sim, sim, eu deixei de fora a trilha sonora, os efeitos especiais que estão bem melhores que a primeira temporada. Deixei de fora de falar minuciosamente de cada personagens e de cada núcleo. No final das contas, com esse universo que se mostrou imensamente amplo e com algumas pontas soltas para a próxima temporada (como a Kali, que eu vou chamar de Eight rsrs), há muito o que se falar. Por isso que começarei a escrever uma série de ensaios e análises que terão base Stranger Things. Vou falar de referências, como contar uma história, arquétipos, improvisação e tudo mais sobre esse Universo que fica cada vez mais rico! Aguardem.