DC Renascimento: otimismo em pleno século XXI - Lendo Quadrinhos.

09:49 Unknown 0 Comments


Como você começa algo? Apresenta os personagens? A história? Você mostra todo o poder das ilustrações e da arte? Do roteiro? Como você começa?
            Com os dois pés no peito. Você vai direto na jugular, sem dó nem piedade. Mas depois você levanta o leitor, coloca a mão pelos ombros dele e começa a guiá-lo, conversa com ele e diz que você tem uma história para contar e que dessa vez ela não vai te desapontar, que essa história será algo grande, mudará muitas coisas; e que tudo que você espera cairá por água baixo, porque ele é o contador de histórias, está aqui para te surpreender, fazer você se emocionar, chorar um pouco, sentir nostalgia e tentar encontrar aquele seu lado sonhador e fanático por algo realmente épico.
            São muitas palavras, e com toda certeza pode se dizer que o tom é de euforia. O fato é que a DC não teve medo e chegou chegando. E como fez isso! Eu realmente estou feliz, mas antes de tudo... tenho que mostrar um pedaço do meu diário.

Diário de Matheus. 4 de Maio de 2017.
Hoje eu entrei na banca. Comprei a edição do Universo DC Renascimento. Eu não sou um leitor de histórias em quadrinhos “raiz”. Comecei a pouquíssimo tempo, não sou fanático, mas aprecio quando algo é bom e entendo o que está por vir.

É isso pessoal, eu não sou um leitor de Hqs como o “comum nerdão”, o famoso estereótipo. Eu não comecei a ler quando era criança, não lia nem Turma da Mônica, os quadrinhos não preenchiam a minha vida. E é justamente por essas coisas que eu tenho algo para dizer sobre essa nova fase da DC. Essa é a primeira vez que acompanho direto, edição por edição, mês por mês, e aos poucos vou entendendo o fanatismo que faz milhões de pessoas amarem heróis. 
DC Renascimento (Rebirth) chega com os dois pés no peito. Sem do nem piedade ele estapeia o leitor, faz seus queixos caírem; por diversos motivos, mas o principal é que ele introduz o Watchmen no Universo DC. Provavelmente Allan Moore não ficou nada feliz, a história estava fechada, havia sido contada, e era aquilo, uma obra-prima por si mesmo. Entretanto tenho que admitir, eu fiquei bem feliz e empolgado – acho que muita gente ficou assim. Depois de Os Novos 52 terem desagrado muitos fãs com seus enredos mais sérios, pesados e melancólicos, Rebirth chega sugerindo completamente o contrário: aqui é o amor, a lealdade, a esperança e a coragem que guiará as histórias, veremos os heróis sendo heróis no sentido “clássico” da palavra.

Vocês podem se perguntar: – Mas por quê? Estamos em pleno século XXI, as histórias não poderiam ser diferentes do velho clichê?
Meus amigos, em nenhum momento heroísmo é antiquado. Poderíamos começar a escrever histórias mais realistas, com um pé nas próprias falhas humanas – assim como foi Watchmen – e tenho plena certeza que muitas coisas boas sairiam daí, mas a DC fez suas apostas, em tempos sombrios como os nossos, talvez um pouco do velho e “antiquado” heroísmo possa ser exatamente o que nos fará acreditar na esperança de um mundo melhor. É duro, eu sei, duro tentar acreditar que guerras civis, conflitos armados, refugiados, injustiça, fome, desigualdade possam acabar. É difícil ser otimista hoje em dia, é difícil tentar crer que as coisas podem melhorar, difícil sair de sua vida alienada em que decide se preocupar com si mesmo porque acredita viver numa selva (e acredito, eu te entendo, e é talvez até justificada a sua escolha). Mas a DC está aí para mostrar que não devemos aceitar as coisas como elas são:

Acho que não tem como ter sido mais claro. O especial RC Renascimento que acabou de começar a sair no Brasil dá a largada para o inicio dessa nova fase aqui. Lá fora, no entanto, começou na metade do ano passado. Essa primeira edição joga novas tramas, investigações, dá todo o teor do que será daqui para frente. A ideia é que alguém fora do tempo estava observando os heróis, e deles tirou 10 anos de todos. Mas não só isso (como se já fosse pouco rsrs), esses anos representam a perda de todas as fortes relações construídas entre os heróis, o amor, a esperança. Eles estão – como posso dizer? – enfraquecidos iguais a nós que vivemos no século XXI, em que as relações com os próximos parecem ser muito mais difícil do que supomos ser antigamente. Heróis que eram lendas agora só são iniciantes. É como o narrador dessa edição diz – nada menos que Wally Weste, o Kid Flash (a própria história explica melhor quem ele é, deixarei que ela conte) – esse pessoal fora do tempo atacou eles bem no coração. Sem as fortes relações eles ficaram mais fracos e vulneráveis.
Sobre esse pessoal fora do tempo, há muitas suposições: é o Dr. Manhanttan, praticamente um deus que domina a matéria – ao que parece, é ele que retira os 10 anos de todos, além de ter criado o mundo mais pessimista d’Os Novos 52 –; outro que ao longo das revistas aparece é o Sr. Oz, que muitos creem ser o Ozymandias. Além disso, o bottom do Comediante aparece na Batcaverna. Todos são personagens de Watchmen. As peças estão colocadas, e resta agora mergulhar com tudo nesse Universo.

De um leitor iniciante eu posso dizer que está valendo muito a pena. Eu ainda não pego todas as referências, muito menos conheço todos os personagens, mas o melhor é que essa nova fase começa mais ou menos do zero, isso é, se você quer começar a ler HQs, mas fica perdido nas edições e nas inúmeras revistas, esse é o momento certo. Claro que não é um reboot, e algumas coisas devem ser lidas antes de começar, por exemplo: Watchmen – eu fiz uma análise da HQ aqui. Se não quiser ler ao menos assista o filme. Outras vocês podem simplesmente procurarem vídeos do youtube, blogs e sites que já explicaram tudo que é necessário saber para começar a ler o Rebirth – coisas como o filho do superman, o filho do Batman, o superman pré-52, entre outras coisas.

Eu comecei com a revista do Batman e posso dizer que até o momento é a minha preferida. Ele agora está num momento suicida, jogando sempre com a própria vida, tomando conta de seus “alunos” em treinamento, sofrendo pelas perdas, apanhando muito, muito mesmo, mas sempre determinado. Ele tem um plano para Gotham, agora sabe mais do que nunca que sozinho ele não dá conta do recado; e ele está fazendo a sua aposta. Não é apenas pelo herói, é porque simplesmente o roteiro está simplesmente foda e a arte está em plena sincronia, além de que há arcos muitos bons (o meu preferido até agora é o “eu sou suicida”). E agora o Batman e o Flash começaram a investigar o bottom do Comediante... e já teve um momentos chocantes.
Eu também comecei a ler a Detective Comics, a revista que apresentou o Batman para o mundo, e posso afirmar que está igualmente boa. Como eu disse, é uma experiência nova, então para mim foi incrível ver o universo do Batman sendo ampliado com tantos heróis que tem o morcego no peito, organizações militares, novos grupos de vilões e etc. Aqui também aparece o Sr. Oz, com todo o seu mistério, ele é aquele que mexe os fiozinhos, que não está no jogo, mas só manipula.

Agora sobre a Action Comics... sei que muita gente não gosta do Superman, que pelo seu idealismo da “nojo” há muita gente. Alguns até falam que ele é norte-americano demais. Certinho demais. Bem, eu dei uma chance para ele, comecei a ler a Action, e já começou muito bem. Mas ele realmente me ganhou quando ele teve que lutar sem os seus poderes. E aí você vê quem realmente é o Superman... Aqui também somos apresentados a outros supers. Mas no geral, ela ta me agradando bem e aos poucos vou gostando desse herói.
Temos a revista do Superman, em que o filho dele é melhor apresentado, além de sua própria vida. Temos a da Mulher-Maravilha, que realmente começa do zero, que é ela buscando conhecer a si mesmo. Essas também tem boa qualidade e vale a pena, sem dúvidas.
Mas para finalizar aqui, meio que uma opinião, meio que um sugestão. Vale a pena você começar a ler; até para aqueles que não pensavam em ler HQs. Eu estou apreendendo com eles, me divertindo, apreciando as palavras e a arte. Estou conhecendo os heróis, vendo como pensam, como se transformam. Vejo como eles vêm o mundo, a injustiça, a justiça. Vejo a filosofia que os guia. Porque são heróis e não outra coisa? Enfim, um otimismo tão forte, que por um momento podemos aceitá-lo, porque queremos crer, enquanto lemos, que apesar das grandes falhas da humanidade, podemos fazer algo, nem que seja nunca deixar de desistir.