A Jornada do Escritor - Contadores de Histórias

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Contar uma história está na natureza de qualquer pessoa. Muitas vezes não percebemos isso ou mal prestamos a atenção nesses detalhes, mas, apesar de existirem casos contrários, grande parte da humanidade gostava, gosta e ainda vai gostar de contar histórias. Sabe aquele seu amigo que muitas vezes é o centro da rodinha e está falando de uma de suas experiências com menin@s, com drogas, esportes, ou situações de risco e engraçadas que você não consegue parar de prestar a atenção?  Muito bem, vemos um exímio contador de história. Para alguns isso é natural, tão natural que o próprio ser não se liga disso; em outros casos, o contador de história passa despercebido, talvez em uma fofoca, em um velho provérbio, ou apenas em um diálogo para entreter e avisar a criança que ela pode ou não fazer aquilo.
            A questão é, queiram acreditar ou não, temos uma grande natureza de contadores de história. A diferença mais gritante que vemos, e que a partir disso conseguimos definir os cineastas, diretores, quadrinistas, escritores e dramaturgos, é que há todo um oceano de distância separando aqueles que contam histórias e aqueles que sabem contar uma ótima história.


            Minha jornada de escritor ainda está no começo, mas acredito que já possa falar com alguma experiência sobre isso. No início eu era como todos, tinha a vontade de escrever e achava que podia fazer isso. Muitas pessoas, apesar de algumas não admitirem, tem essas duas coisas, afinal, porque começar? No entanto, ainda há aqueles casos de começar ou por promessa ou porque é forçado, então é apenas com o tempo que adquirem essas coisas. Mas vamos ficar apenas com o primeiro caso.
Há uma quantidade imensa de pessoas assim, que tem vontade e acreditam serem capaz. Muitas tropeçam pelo caminho, e aqueles poucos que se aguentam de pé não se ligam que passaram do primeiro limiar da jornada (ou para alguns, o verdadeiro início). A partir desse momento é que crescemos conscientemente. Assim como todo escritor eu acreditava ser capaz e foi duro ao perceber que eu não era capaz. Fiquei depressivo, mas então descobri que eu podia ser capaz. Nessa fase eu iniciei leituras materiais a respeito de contar uma história que serviram mais ou menos para entender o mundo a minha volta, animar-me e entender uma das formas de contar histórias.


A Jornada do Escritor
            Como Stephen King diz, são poucos os gênios que andam no mundo. É raro você encontrar um. Eles não são aqueles que apenas sabem contar uma história, escrever maravilhosamente um livro que te prende do começo ao fim, ou um filme que te fixa na cadeira e o faz suar frio. Não é apenas aquele que sabe desenvolver um mundo complexo de fantasia, um raça nova, viagens estrelares, novelas, dramas, suspenses, terrores. Não é apenas aquele que tem uma narrativa tão surpreendente que te faz chorar com uma cena, que no final das contas, não quer dizer muita coisa. Um gênio, em certa questão para mim, é aquele que consegue fazer tudo isso, ou algumas dessas coisas, sem conhecer precisamente toda a forma que permeia uma história. Esse cara tem tudo no gene, não precisa de muitas outras coisas.
            Infelizmente ou felizmente, a maioria dos contadores de histórias não são assim. E é a partir do livro A Jornada do Escritor, eu, e acredito que muitos outros, passamos (e passarão) a conhecer a forma – não fórmula – que permeia inúmeras histórias mundo a fora.
O livro do autor, palestrante e consultor de roteiros de Hollywood, Christopher Vogler, titulado A Jornada do Escritor – Estrutura Mítica para Escritores, foi produzido primeiramente em poucas páginas, parecido com um pequeno folheto explicativo que fazia inúmeros produtores e diretores perceberem a forma que permeava seus roteiros. Uma forma que para muitos estava submersa nas histórias sem ao menos perceberem isso. Não algo repetitivo, apesar de parecer exatamente isso, mas representações da própria vida, da própria história humana mapeada em diferentes aspectos que, se olharmos a fundo, perceberemos em tudo que é lugar.
            No entanto, quero deixar já claro: esse fenômeno só acontece pela nossa incrível mentalidade de dar sentindo e representações a toda história da humanidade; incluindo as nossas próprias. Mais ou menos como ficássemos fascinados por vermos tantos fuscas em um dia e você fala: “Nossa, hoje to vendo fuscas para caralho na rua”, sendo que praticamente por algum motivo em específico você está buscando esses fuscas por todo lugar que anda. Eles sempre estiveram ali, estacionados, em movimentos pelas ruas, pelas horas do dia. A diferença é que durante grande parte da sua vida você não está prestando atenção neles. E é basicamente isso, toda essa forma que Christopher Vogler e Joseph Campbell dizem encontrar em torno de toda história da humanidade, desde os homens contando histórias a beira de uma fogueira ou de um livro impresso em suas mãos. Mas, de qualquer forma, todas essas visões que temos das histórias ao nosso redor não deixam de serem reais, porque elas são.
            A forma que Vogler nos conta é diferente de fórmula – pois ela sempre chega a um resultado único e concreto. A forma seria mais ou menos como uma camiseta; ou melhor, roupas. Você sabe exatamente como elas são, sempre sendo as mesmas, pelo menos na ideia e na prática. A camiseta tem a parte do corpo, e uma manga. Básico, e é assim em quase todos os lugares do mundo, como a túnica foi na idade média. Ela veste seu corpo, sempre vestiu. Tem uma forma própria e é feito de algum material, isso é fato. E as histórias são exatamente assim... No entanto elas são mutáveis, diferentes, ornamentadas com dramas, romances, suspense, terror. Mistérios as cercam, sangue, guerras. Formas de escritas, narrativas e enredos. Por isso, se você escolhe bem seus escritores, você perceberá um oceano de diferença de uns para os outros, apesar de que no final, estão seguindo em parte aspectos delimitados e mapeados da jornada do herói trazidas magistralmente nesse livro de Vogler. Ou seja, a história segue os mesmo princípios de uma camiseta, mas então encontramos estampas nelas, mangas mais largas, mais curtas, justas, decotes, bordados... e isso seria o que da cara as histórias, o que as tornas diferentes em partes de muitas outras, seguindo (repetindo novamente) a forma da Jornada, o caminho da evolução humana.


            O livro mapeia, então, os estágios da Jornada do Herói, tendo ele, por sua vez, como o protagonista da história, o cara em que tudo gira em torno; seus pensamentos, suas escolhas e a forma que ele se relaciona com os demais são os aspectos que dão a maiores características da trama. Herói, por sua vez, seria basicamente uma forma de nomear os importantes de qualquer história: Dante, Jean Valjean, Radion Raskólnikov, Lorde Jim, Bazárov, Julien Sorel, Fausto, Robert Neville, Jorg Ancrath, Ablon, Arthur Dent, Vin, Kvothe, Adapak, Bilbo e Frodo, Lúcia e Edmundo; os multi-tramas com Jon Snow e Dany, João e Maria, Danyel e Kaira, Andrei Bolkonsky e Pierre Bezukhov... e muitos outros histórias a fora. Em alguns casos, a própria história é o personagem principal, ou até cidades. E diante de todos eles, há um véu fino e invisível que veste cada um deles, e esses são os aspectos e formas da Jornada do Herói.

PARTE 1

De inicio, Vogler traz a nós um conceito muito importante para qualquer contador de história: os arquétipos. Não colarei a definição dele, nem de ninguém para explicar o que são. Afinal, quero demonstrar o que aprendi e entendi de tudo que já li sobre isso até esse momento e espero que vocês entendam que arquétipos são mais internos do que explicitamente externo.
Esse, na verdade, é um ponto importante. Arquétipos nada mais são que características gerais, psicológicas, momentâneas e marcantes, que são recorrentes na vida de qualquer pessoa. Trarei em outra matéria dessa coluna um livro que trata somente disso, e que é, de certa forma, diferente das expressadas na Jornada do Escritor. Vogler traz cerca de oito arquétipos – estudados e dissertados na primeira parte do livro – presentes em todo tipo de histórias, pois nada mais são que representações das fases da vida de uma pessoa. O Herói, o próprio protagonista da vida, ou seja, você. O típico herói, que se sacrifica, que faz relativamente o bem. O típico Mentor, aquele que guia as pessoas em suas fases iniciais (aí você percebe a ligação com professores de escolas, os diretores, pais, tios... amigos), ou por toda sua vida. O Guardião do Limiar, que não precisa ser exatamente uma pessoa, pois ele está praticamente na passagem do limiar de uma nova fase de sua vida – então logo percebemos como ele pode ser uma dificuldade de escrever, um vestibular, um concurso. O Arauto, o mensageiro, aquele que carrega em bandeira o símbolo que pode muito bem ser um aviso, uma mensagem – o autor expressa bem como aquele personagem que lhe traz ou mostra que momentos ou novas fases da história estão para chegar. O Camaleão, um arquétipo que realmente nunca havia percebido em histórias e que ao ler sobre, fiquei fascinando, apesar de ainda não entender completamente o papel dele nas tramas, mas percebi já que se alguém souber usar ele, pode trazer um novo fôlego e inovação numa história – é difícil explicar, já que até eu não entendi muito... mas para deixar um pouco claro, pense exatamente num camaleão, que se camufla, muda de cor; ou seja, mutável. A Sombra, geralmente aqueles subalternos do vilão – o delator do diretor, o que te faz sofrer a mando de outro. O Aliado... que acredito não ser preciso explicar, não é (rsrs). E por último o Pícaro, aquele personagem icônico que alivia toda a pressão e a tensão do ar. A válvula de escape, o comediante – não consigo parar de pensar agora no Soka, da Lenda de Aang, assim como o Bolin, da Lenda de Korra; acho que eles expressam muito bem, sendo eles personagens principais na história.
Mas não se enganem que apenas ao lerem simples resumos de cada um vocês já achem o suficiente. O que estou escrevendo aqui é só a ponta do iceberg. Em cada capítulo, de cada um desses arquétipos, ele expressa e explica o papel (ou papéis) de cada um na história, suas funções dramáticas, psicológicas e ensaios explicativos e repletos de exemplos para que a cada um entenda melhor.



PARTE 2
Aqui ele vai trazer o conteúdo plenamente visível, a forma que contém em praticamente quase todas as histórias do mundo: Os Estágios da Jornada do Herói. Respectivamente O Mundo Comum, o lugar onde todos os heróis ou personagem principais crescem e vivem, um lugar que deve ser diferente do decorrer das histórias, geralmente trazendo calmaria, uma vida monótona, chata – ou por outro lado, feliz –, geralmente com familiares, demonstrando por exemplo pensamentos chulos, chatos, de Raskólnikov, por exemplo, em sua cama apenas pensando. Chamada à Aventura, aquele fase em que ocorre muitas vezes um Incidente Incitante – nas palavras de Mckee – o estralo, literalmente um chamado para que o protagonista aja, assim como em Crime e Castigo, quando Raskólnikov escuta no bar pessoas conversando, dando indiretamente uma permissão para que ele cometa o assassinato que planejava, ou seja, quando seu pensamento é jogado contra a parede e ele tem que tomar uma decisão. Recusa do Chamado, quando o herói hesita, faz escolhas bobas por não querer agir até que ou é jogado, ou escolhe livremente se comprometer. 

Encontro com o Mentor, o estágio que muitas pessoas acabam ligando apenas em fantasias, em que na verdade está em muitos filmes, sendo uma fase recorrente e quase obrigatório, algo momentâneo, como acontece com Pierre Bezukhov ao encontrar um líder maçom que o guia, abre sua mente, fá-lo mudar ou dá as ferramentas necessárias para que aja por conta própria, como Kelsier em Mistborn – O Império Final, sendo um verdadeiro professor à protagonistas Vin, acompanhando, treinando e fazendo ela minar os seus medos durante quase toda parte da história. A Travessia do Primeiro Limiar, o instante em que muitas vezes há o primeiro embate físico, ou até psicológico, em que conhecemos o guardião do limiar, a primeira dificuldade que todo protagonista passa para iniciar suas mudanças mais abruptas. Provas, Aliados e Inimigos, aquele momento que a primeira dificuldade passa, e que geralmente o protagonista é catapultado numa região onde acaba conhecendo o mundo novo e extraordinário – como as guerras napoleônicas em Guerra e Paz, David Copperfield ao iniciar numa escola ainda criança, Ulysse no livro O Planeta dos Macacos ao ser considerado alguém no planeta Soror –, os aliados, muitas vezes os que concretizam grandes amizades com os heróis, o guiam e ajudam em sua jornada, sendo por final estabelecido o vilão, ou vilões da história, como é o caso de O Nome do Vento, em que Kvothe parte para a Universidade pesquisar sobre um grupo misterioso e antigo, colocando no foco de toda sua trajetória (apesar de grandes desvios) a vingança contra Chandriano por ter matado seus pais. Aproximação da Caverna Secreta, a fase em que o protagonista sente o clima ficar tenso e que já não pode mais voltar atrás na luta, a parte em que as pessoas param, percebendo o perigo logo à frente; acendem uma fogueira, alimentando, dormindo bem durante uma noite para estar recuperado ou 100% para o perigo (aos vestibulandos: não é mais ou menos assim na semana que antecede ao vestibular, em que quer se alimentar bem, repassar algumas fórmulas de matemáticas ou períodos de histórias, dormir as oito horas por dia, certinho?). A Provação, o momento que forças contrárias se chocam, em que Moscou começa a ser incendiada (Guerra e Paz), o estágio que o protagonista deve fazer escolhas crucias, como vida e morte, lutando com suas maiores forças – abdicar de sua felicidade ou abrir a total felicidade de Cosette para que possa se unir a Marcus? (Em os Miseráveis).

Recompensa, a fase que vemos a celebração, aquela típica fogueira, os sorrisos cansados iluminados pelo fogo, a sensação de leveza, de dever cumprido, em que os personagens principais ganharam a honra de serem chamados de heróis, o ponto em que até o anti-herói sente a sensação de ser um verdadeiro herói. No entanto, esse não é o fim do ciclo, ele segue para O Caminho de Volta, A ressurreição, Retorno com o Elixir, capítulos que eu decidi não tentar resumir ou dar uma simples ideia do que se encontra neles. Os próprios nomes já dizem e esse será o trunfo para qualquer contador de história; desejo a vocês que explorem essas partes sozinhas sem ter nada em mente.




Por final temos a última parte do livro em que o autor apresenta alguns ensaios e textos que vão nos inspirar, demonstrar por meio de palavras como contar uma história é um dos feitos mais importantes e magníficos da raça humana.
De resto conseguimos ver a enorme qualidade de projeto gráfico que a editora Aleph consegue trazer em nossas mãos. A capa é meio aveludado, mas o que realmente faz diferença ao olhar são os inúmeros diagramas e desenhos que recheiam o livro, trazendo os estágios mapeados, como prosseguir com a evolução da trama, levando aos poucos para uma altura onde percebemos que o herói já não pode retornar, demonstrando a polaridade que podemos inserir em cenas de nossos livros, o nível da evolução do protagonista conforme cada estágio da jornada, além de análises de filmes como Titanic e Star Wars, o motivos de que cada um fez e ainda faz sucesso. Como o próprio autor diz, confie no caminho. Confie nesse livro.



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Sabe, lembro agora de meu professor me contando sobre desenhos em uma parede numa caverna. Eles datam de muitos milênios a.C, uma época que as pessoas chamam simplesmente de Pré-História apenas pelo simples fato que a História começou após a escrita. Essa ideia aos poucos está sendo ultrapassado, felizmente, pois incrivelmente descobrimos que não é apenas pela escrita que se conta uma história. Desculpe a ironia, mas ela é necessária para dar uma batucada e expressar que desde o principio, pelos sons gerados de nossas bocas, de nossos dedos batendo na superfície de uma pedra, fomos capazes de contar sobre nossas caçadas, sobre como é duro passar fome ou ver seu corpo morrendo enquanto ainda desejamos ficar nesse mundo. Claro que não poderia afirmar que isso sempre foi assim, afinal não vivi em épocas passadas, mas para me servir de consolo, gosto de pensar que foi assim e que sempre será assim.
Conforme mais estudo sobre essa arte de contar histórias, mais vejo que as ideias de Christopher Vogler e toda sua genealogia, sendo ele próprio um discípulo de Joseph Campbell, são de extrema importância para entendemos a nós mesmo e a nossa vida. No entanto, sempre quando um bem surge, o mal logo mostra a sua cara; pelo menos é assim que vemos um pouco as coisas. Conforme fui lendo mais, praticando essa forma de contar uma história, e vendo muitos filmes e séries, lendo histórias em quadrinhos e diversos livros, percebi que esse livro se trata muito mais de uma interpretação e uma representação que damos algo ao nosso redor, do que realmente uma forma. É mais ou menos como o filme “Número 23” com o Jim Carrey, em que ele vê 23 por tudo que é canto, mas sem se ligar que ele consegue encontrar esse número por tudo ao seu redor porque inconscientemente ele está procurando esse número. Por incrível que pareça, realmente não precisamos ter um protagonista, o cara em que tudo converge e gira em torno. Pode-se se ter mais (ou nenhum), apesar de que criar uma história com dois ou mais protagonistas seja extremamente difícil, trabalhosa e longa, pois acima de tudo os anos de uma imensa massa de filmes, séries, livros além de pensadores que nos fizeram crer que só se pode ter um herói na história acabaram por criar uma espécie de doutrinação. Afinal de contas, os livros mais antigos que chegam a nós, como Ilíada e Odisseia, são apenas a demonstração de uma obra que fez em alguma época sucesso e que a história não deixou que sumisse de si mesmo. Agora pergunto, quanto de escritores existiram na históra? Díficl responder, não é? Muito bem, quantos escritores ou contadores de histórias viveram durante a época de Homero, ou de Dante Alighieri? Acredito que você também não saiba, certo? Não fique triste, ninguém sabe, pois isso é um dos muitos casos que jamais saberemos. O que quero expressar é que tudo que chega a nós é apenas uma pequena fração de tudo que realmente há, e felizmente ou infelizmente, a sociedade que nos rege deixou, juntamente com a história, de apagar, quem sabe, nomes de contadores que viam sua arte de forma diferente e que provavelmente faziam-na de forma completamente diferente.
Essa, sim, essa é a palavra cerca para se encaixar numa comparação que quero fazer. Diferente; é exatamente por isso que vejo a enorme importância da obra de Christopher Vogler, pois mesmo ela não sendo uma forma única e concreta, ela é uma delas e isso nada tira sua grandiosidade. Não há melhores formas de contar uma história, e sim formas diferentes. O que realmente importa, ou que trás a nós uma sensação psicológica de prazer é ver alguém chorando quando contamos uma história. É por ver olhos brilhantes prestes a soltar lágrimas que deixamos de lado todo o materialismo de uma sociedade, todo o dinheiro, regras, conceitos e representações para ficarmos comovidos com a importância que contar uma boa história nos dá.
Apesar de sentirmos que o solo é uma crosta fina, e que a qualquer momento ele pode se desmanchar nesse mar de obras aclamadas, canonizadas e realmente lindas, estamos perdidos, vendo apenas um véu escuro e denso onde a princípio nada sabemos. Mas então surge uma faca entre o tecido, e logo o vemos no chão, tendo a nossa frente um velhinho segurando um lampião a óleo, chamando para que nós o seguíssemos. Ele pode ser velho, fraco e realmente típico em qualquer história (na linguagem atual, um clichê), mas em nenhum momento devemos tirar a sua importância, pois aqueles pés calejados já têm muitos anos de estrada, e por mais simples que seja, sem dúvida ele será um ótima guia para nos iniciar nesse maravilhoso céu estrelado de peculiaridades.


A Jornada do Escritor, ultrapassado ou não, não deixa de ser esse velhinho, nosso guia inicial. Não lembro quem disse, e provavelmente muitas pessoas já falaram o mesmo, mas para dominarmos qualquer coisa que seja, há de ter uma base, e isso Christopher Vogler trata de nos dar. Depois de aprendermos, aí sim chega o grande momento de nós mesmos ultrapassarmos nossos mestres. Poderemos prosseguir para o inimaginável.