Eu Sou a Lenda, o Personagem da Solidão - Literários

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Capa bonita! Capa dura! Cor maravilhosa! Diagramação levíssima! Ótimas Ilustrações Qual Editora? Aleph... E a história, é boa? É um clássico? Quem é esse Richard Matheson?
            Muitas perguntas e exclamações. Poucas coisas ditas. Eu Sou a Lenda provavelmente lembrará a você o filme com Will Smith – é quase automático. Você nem lembra qual o nome do protagonista, apenas que o ator é o maluco no pedaço. Mas muito bem... aqui, nesse livro de 1954, vemos coisas demais em linhas de menos. Uma combinação bem interessante, mas que dá lugar para conhecer o protagonista de verdade, Robert Neville. Sim, esse é o nome que esquecemos, mas que não deixa de ser um dos protagonistas mais (in)críveis possível.


             Atualmente é muito comum vermos livros que nos apresentam primeiramente a história, e depois o personagem é inserido para começar a mover a trama. História e Protagonista, muitos defendem que uma vem antes da outra, e outros dizem que uma molda a outra (vice-versa). Têm alguns que dizem que é a mesma coisa. Eu Sou a Lenda pertence a um período em que as coisas pareciam ser esquecidas, e será chocante ao descobrirmos que essas coisas são as pessoas. Eae, fazendo as ligações com os tempos de hoje? (rsrsrs) Talvez seja por isso que esse livro continua sendo um clássico mesmo passando mais de 60 anos. O cenário é pós-apocalíptico, há vampiros e apenas um homem – o esquecido, aquele que conseguiu sobreviver e que passa seus dias em solidão, matando e buscando suplementos. Como é a vida de um homem assim? Robert Neville nós dá pensamentos, do começo ao fim, pensamentos e ações que acabam se tornando sinceras pelo simples fato de que são coisas que eu penso, coisas prováveis que faremos em situações como aquelas em uscando iros e apenas um homem,que ele passou. Por isso que esse livro é um daqueles que traz e dá prioridade ao protagonista, e praticamente ele.
            Se você busca saber como era o mundo antes, o cotidiano, as pessoas... e depois o que aconteceu para grande parte da população ser infectada... Não será aqui que você encontrará essas coisas. No entanto, esse aspecto é substituído pelos sentimentos e as emoções. Richard Matheson nos apresenta como era o sentimento antes, de viver numa sociedade, de não ser o único, não vivenciar nenhuma grande merda em sua vida, parece não ter perigos tão grandes; parece até haver algumas felicidades nesse meio. Por flashes o autor vai apresentando os momentos em que tudo está acontecendo, como era cremar os infectados para que o vírus não se espalhasse... mas não a parte material disso, e sim a parte psicológica, a decisão de queimar uma pessoa que você amou. O tempo presente na história trata de expor todos os pensamentos, todas as angustias, preocupações e perguntas que Robert Neville tem. Como seria o pensamento de alguém que é o último humano na terra? E bem, é aí que vem o terror.
            Ele está em seus pensamentos ao se confrontar todos os dias com o a vontade de se matar. Está no jeito de lidar com a solidão, às vezes sem se desgrudar do seu passado. Está em viver relembrando momentos que já não vão passar. E está, sobre tudo, com a vivencia com os “vampiros”. E então uma das jogadas mais duras do autor, como lidaríamos ao reencontrar-mos com alguma coisa viva? Não será nenhum spoiler, pois a própria capa traz a imagem de seus companheiros. Ao encontrar num certo dia um cachorro esfarrapo, fedido e esfomeado, Neville recorda um pouco de sua própria humanidade, e com o tempo, a tentativa de tornar o animal seu amigo toma todas as suas esperanças humanas.
            Em todo tempo conhecemos os lados mais animais do ser humano, ao passo que voltamos a conhecer a humanidade. Descobrimos como é viver num mundo tão atual como o nosso, em que, apesar de tantas pessoas – essas eu poderia dizer os vampiros no livro – estamos vivendo com as nossas próprias solidões e tendo que sobreviver a isso; da nossa forma. Encontrado vez ou outra, como ilhas durante a vida, pessoas ou seres que nos importamos e reflete a nos mesmo quem somo.
            Eu Sou a Lenda é curto, 300 páginas com uma diagramação super suave e rápida de ler. Da sua simplicidade, somos apresentados a uma ótima história, com uma profundidade psicológica, um horror clássico e gostoso de ler. Neville se apresentou como um personagem marcante, embutida de críticas e empatia. Nas páginas nós conhecemos e torcemos para que aquilo não seja verdade. E ficamos chocados por percebermos que sim, é verdade. Somos animais, vivemos sozinhos e podemos fazer as mais brutais ações.