Trilogia dos Espinhos ou a Voz Próprio de Mark Lawrence - Literários

14:31 Unknown 3 Comments



Mark Lawrence é a melhor coisa que aconteceu à fantasia nos últimos anos”. Essas são as palavras de Peter V. Brett, autor do Ciclo das Trevas. Achei no início que elas supervalorizavam toda a Trilogia dos Espinhos, afinal é difícil você realmente considerar alguém a esse nível. Eu ainda estava no segundo livro, King of Thorns, quando li essa frase na contra capa (claro, sem ler a sinopse), e tive essa primeira opinião. Mas hoje, após terminar o último livro da trilogia, Emperor of Thorns, creio que minhas ideias e opiniões a respeito do Mark mudaram bastante, e apesar de realmente ele não ser a melhor coisa, não deixa de ser um dos principais autores de fantasia da nossa época, pois, no final das contas, ele sabe escrever ótimos livros.


            Posso dizer que Jorg Ancrath é um dos meus protagonistas preferidos até agora, o que pode contrariar inúmeras pessoas que acreditam que ele seja um personagem clichê, fraco ou mal construído. Mas logo defenderei Jorg, apesar de saber que ele não precisa de minha defesa, se deixar, ele botaria fogo na mãe de cada um que o crítica. Na verdade Jorg não faria isso, nem ligaria para o que vocês diziam. Ele é mais que tudo isso (rsrsrs).
            O protagonista é um dos motivos de considerar essa Trilogia realmente muito boa. Os outros incluem desde o ótimo desenvolvimento de escrita até criação de um maravilhoso mundo construído conscientemente; todos esses aspectos me forçam a levantar de minha cadeira e aplaudir veemente Mark Lawrence, pois ele merece.
            No entanto, concordo com alguns que a história não tem nada de complicado, complexo, multifaceto. É uma jornada simples, que está representada em cada título dos três livros, Prince of Thorns, King of Thorns e Emperor of Thorns. Logo, a cada livro vemos a jornada de Jorg Ancrath rumo ao trono do Império, saindo das sombras de príncipe, dominando terras por tudo que é canto, tornando-se rei e unificando um império fragmento há mais ou menos 128 anos em principados e reinos. Para deixar claro, é um caminho rumo ao poder e dominação, não por esses objetivos, mas pelo simples fato que para onde Jorg seguia, diziam-no que ele não era capaz. Era o “não” um dos grandes aspectos que movimentou toda a vida do nosso amável e cruel protagonista.



            Para os que esperam que isso seja uma resenha, peço desculpas, pois acredito que não seja. Não terá nota, não será sintetizada, mas por outro lado, será aprofundada. São argumentos meus, minhas opiniões e explicações a respeito da trilogia, escrita, história, personagem e essas coisas chatas, mas que (juro) tentarei deixar uma leitura gostosa e envolvente. Aviso que não será breve essa análise, então sente em sua cadeira, pegue alguma coisa para beber, comer e vamos lá...
            A História: O que chama a atenção durante todos os três livros é o mundo criado por Mark. Não é nenhum segredo e você pode encontrar isso em qualquer lugar durante todos os livros –  de forma indireta. É o nosso mundo, mas no futuro. Ao que parece aconteceu uma espécie de guerra nuclear ( acredito que os sois dos construtores que ele fala tanto seria uma bomba nuclear 10 vezes mais foda). E o mundo foi queimado, destruído; nascendo e desenvolvendo novamente uma sociedade com caráter feudal. Para se ter uma ideia  sabemos o quanto é no futuro quando Jorg fala dos textos de Aristóteles de 10 mil anos atrás.


            O mundo mudou, muito. Os construtores parecem que conseguiram alterar toda a realidade, as ciências e vontades humanas, mas acabaram, como sempre, sucumbindo. Escutamos sobre eles durante toda a história, em alguns momentos menos, em outros mais, sendo importantes em muitos pontos para a ela. Então descobrimos sobre o Império que se fragmentou há um tempo (de extensões semelhantes ao Império Romano), e de lá surgiu reinos e principados. Por quê? Como? Não são importantes, e nesse ponto as pessoas não podem gostar disso, dizendo que Mark não explica as coisas direitas e esse tipo de coisa... mas, tenha calma, logo chego na explicação.
            O que é gostoso da história e ver o amadurecimento e o desenvolvimento que o personagem tem nela, viajando para todos os cantos, fazendo amizades e inimigos, desafiando as leis dos construtores. Esse desenvolvimento é consciente e bem contado da forma indireta, ou seja, você percebe sem o escritor te dizer exatamente isso. Nada de “agora ele percebia, sentia em seu interior que estava mudado. Via as crianças como encantadores, não meras bolas de carne; queria agora, ajuda-las”... não, nada disso, você vai encontrar coisas longe disso. Jorg no primeiro livro tem uma alma praticamente negra, perversa e completamente vingativa... faz tudo para descontar sua dor e se vingar do homem que matou sua mãe e seu irmão. No segundo o vemos mais consciente, não agindo por impulso e pela loucura, mas virando realmente um jovem multifaceta e genial. No último encontramos um Jorg praticamente em seu total controle e evolução (aí entra a minha dúvida/questão; acredito que as capas da edição brasileira foram esteticamente desenvolvidas para isso, pois literalmente vemos um clareamento na capa, do negro do primeiro, até o branco do terceiro e último) tendo toda sua mentalidade realmente concretizada num objetivo digno de sua forma. E Mark coloca Jorg em cada situação, em cada canto que não vemos nem oportunidade para que ele sai de lá... mas então, bum, tudo que é jogado em cima do nosso personagem é vaporizado por sua genialidade, crueldade e sangue frio. No entanto, o melhor disso, é a forma que ele consegue preparar nós para isso, pelo caminho tecido até o final.
            Narrativa e Personagem: Esse é o ponto alto de Mark Lawrence. É nesses dois aspectos que ele demonstra ser um gigantesco escritor que sabe o que faz; muito mais, sabe utilizar de uma forma rara a escrita para dar vida a um personagem, pois a faz de forma excelente. Juntei esses dois em um tópico porque a história é contando em primeira pessoa, logo a narrativa vem da própria mente do protagonista Jorg. Aqui vêm as inúmeras críticas de que Jorg não é bem construído, um personagem clichê, chato ou ruim. Como em toda arte, às vezes uma coisa é um grande milagre, mas por outro lado pode se tornar o pecado. Quero tentar fazer vocês entenderem porque disso tudo.


            As formas de narrativas são tão diversas tanto quanto gêneros literários. Em terceira pessoa, geralmente o autor tem uma visão de deus sobre sua obra, contemplando tudo e sabendo de tudo. Ele escolhe o que ocultar, o que contar, quando contar, podendo voltar ao “passado” indo para o “futuro” para explicar fatos da história, sem um personagem precisar saber; com as narrativas com Povs, pontos de visão, que a narrativa só conta e dialóga com o que o personagem viu e sentiu, dou como exemplo George R. R. Martin. No entanto, isso é uma das coisas que Mark conseguiu trazer a sua narrativa em primeira pessoa – como normalmente é para essas formas de contar história. O autor foi excepcional em transmitir tanto Jorg durante os três livros que tudo, exatamente tudo, palavra por palavra, linha por linha, nós vemos a cabeça de Jorg. Sem dúvida podia ser melhor incrustado isso nos livros, chegar próximo da perfeição, mas o trabalho dele consegue dar inveja a muitos escritores grandes, sem dúvida. O que quero dizer é que quando vemos frases curtas, expressando diretamente pensamento ou sentimentos, já temos a noção da mente do protagonista Jorg. Ele é um homem direto, sem enrolação, tem uma visão de certa forma simples das coisas, como se tudo fosse em grande parte uma brincadeira. E a melhor parte disso, é que a escrita expressa exatamente a forma que Jorg age durante a história, seus sentimentos, suas raivas, sua sede de vingança... mas ao mesmo tempo demonstrando que por mais que ele sinta um desejo imperioso em cada coisa, nada daquilo realmente é importância para ele, é tudo uma grande piada, daquelas que só ele entende. Por isso de acharem mal escrito, ou mal contado em alguns casos, tudo isso porque essa é a cabeça de Jorg, “não de Mark”. O personagem não foi mal construído, mas foi tão bem construído que você o vê sua construção fraca... Conseguiram captar? Realmente, por mais conhecimento que a pessoa tenha de si mesmo, ninguém do mundo inteiro, é bem “construído”. Por isso achei Jorg tão humano. As pessoas que tem uma vida similar à forma de suas expressões, pessoas que veem as coisas simples, acham formas básicas para enfrentar problemas... Entenderam a magia do tio Mark? Ele fez isso tão bem que você vê Jorg tão mal construído, quanto aquele seu vizinho simplista, arrogante...

"Eu vivi uma vida impulsionada pelo desejo, o desejo de vingança, de glória, de ter o que me é negado.”
            Tem coisas, no entanto, que eu não gostei tanto, como a mescla de capítulos do tempo presente e capítulos contando ações do passado. Há um porém disso, às vezes a história atual está ótima, mas então nos deparamos com capítulos do passado chatos e bastantes levados que nos contam da história e nos explicam coisas. De vez em quando fica até confuso. Às vezes a história atual parece extremamente lenta, sendo que a do passado está muito boa. Mas, sendo seu objetivo ou não, no terceiro livro, apesar de um porre no começo, apresenta histórias tanto no passado como no presente ótimas, que nós faz querer saber uma da outra o tempo inteiro. Dando a sensação, às vezes, de estar acontecendo um monte de coisa, sendo que realmente nada de tão importante está rolando. O Bom, no entanto, é ver reviravoltas em dobro, tanto no presente quanto no passado, mostrando um caráter concreto de Jorg e a sua grande evolução ao homem rumo ao trono do Império.
            Há um ponto negativo que simplesmente não gostei. No terceiro livro, mesmo eu entendo o motivo daquilo, Mark coloca mais uma linha de narrativa, que é a história da Chella uma das personagens com certa relevância. Era chato e acredito que podia ser contado de outra forma melhor. Esse capítulos são os único contados em terceira pessoal, e por isso achei ruim. O autor seguia uma lógica até o segundo livro, tendo produzido muito bem sua formula, mas deve ter enfrentado dificuldade, pois, sendo contando em primeira pessoas, só teríamos o ponto de vista de Jorg para todas as coisas. Sorte que os capítulos delas não são tantos.
            Por último... temos o Arco da História. O conjunto de todas as coisas que aconteceram e como acabaram, sendo apenas possível sua avaliação ao terminar essa maravilhosa trilogia. Confesso a vocês que são poucas séries ou trilogias que eu já terminei até agora, mas o final do livro foi de estourar a cabeça. Um pouco fraco em apenas um quesito, que ao terminar vocês vão perceber, mas de resto, trás um grande final, descoberta e desfecho que sempre estará na minha cabeça.
            
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Há trilhões de coisas que eu poderia falar sobre, ainda mais se eu decidir reler toda a trilogia mais uma vez. Mas acho que apresentei as principais coisas que farão vocês se lembrarem bem do tio Mark e comprarem todos os seus livros. Ele surpreende, é uma voz gritando por espaço e fico feliz por ver que ele está conquistando muito, ainda mais aqui no Brasil. Por querer agradar a nós, ou não, ele deixa um recado em seu último livro agradecendo principalmente a nós, brasileiros, pelo carinho temos com suas obras, e pelo nosso bom gosto. Sei que da orgulho de ter eles na estantes. Capa dura enveludada, uma belíssima arte e uma excepcional história.

3 comentários :

  1. Vale muito a leitura. Ótimo apanhado sobre o cenário do Mark.

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  2. Olá! Li essa trilogia tem alguns meses e me encantei demais. Puta final foda. Adoro o Jorg e todo o universo que foi criado. Porém, acho que me empolguei com o estilo do livro, e não consigo achar nada parecido, ou talvez somente algo que me agrade. Você tem alguma indicação??
    Obrigada!! (Eu não sei como esse comentário funciona, se recebo algum aviso de resposta, então, se puder, mande para o meu e-mail (ramona.misan@gmail.com))
    Obrigada novamente.

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