Pluralidade de Histórias - Ensaios de Delírio
Você é um leitor, não?
Provavelmente você vê filmes, séries, animes, desenhos. Lê livros, quadrinhos e muitas outras coisas. Assim como você, diante de
maravilhosas histórias, acontecimentos ou fatos, busco em um livro a viagem
tanto sonhado. Vou à Itália; à França em meio ao século XIX; à Inglaterra
enfrentar escandinavos; sou encaminhado à Sibéria como preso revolucionário...
Vejo as águas do caribe e a grande fragata de um pirata refletindo uma aventura
gritante de liberdade.
Talvez ao iniciar você não tivesse vontade, e mesmo não
podendo afirmar que todos têm as mesmas vontades, acredito que uma massa enorme
de leitores – de pessoas que se deliciam com algum tipo de história – querem e
desejam uma vida repleta de viagens pelo mundo.
No entanto, um dos grandes motivos que me leva
a querer viajar é conhecer não apenas os lugares físicos, mas toda a
pluralidade do mundo. É visitar outras culturas, estudar seus costumes, tentar
pensar como eles pensam. É olhar para um Coliseu e tentar imaginar como os
italianos a vêem - e principalmente como os romanos a viam. Tentar entender
isso.
Não é por isso que lemos?
É
aqui então que adentro em um assunto extremamente importante aos leitores: a
diversidade e pluralidade de histórias – e de seus meios. Não que a pessoa que
lê apenas livros de romances românticos ou best-sellers esteja errada, acredito,
no entanto, que se ater a apenas a eles é um grande erro em que muitos outros
mundos maravilhosos acabam por nunca serem explorados. As pessoas que assistem
séries e apenas elas, deixam de lado um riquíssimo material impresso em papel,
floreado com palavras que nos levam ao mais profundo da mente humana.
Entretanto,
não serão com palavras que vocês entenderam como a pluralidade de meios de
contar uma história é algo extremamente importante para um escritor ou para um
leitor, amante de séries e HQs. É na
prática e apenas com ela que vocês, assim como eu, entenderão o quanto perderam
por apenas lerem livros ou gibis. Há coisas que apenas em filmes e séries são possíveis – ou que o meio da produção traz muitos
acréscimos. Como é prazeroso sentar numa cadeira e ver as expressões faciais de
um Walter White ou Ragnar Lothbrok enfurecido, ver uma
imensa quantidade de sangue pingando do cabelo do Rick Grimes após chacinar zumbis como se tivesse lavando a
sociedade. Ao pegar um livro, fico extremamente animado por tentar decifrar
suas estrutura e porque aquela obra se torna não apenas um clássico, mas algo
importante para mim mesmo...
Esse
ano coloquei em minha cabeça que deveria começar a ler HQ. Porque não?
Aí
é que está a grande pergunta!
Porque
não?
As
desculpas de que não gosta ou de que não consegue se acostumar a novo formato
são fracas, rebatidas facilmente pelas inúmeras pessoas que sem medo passaram a
usufruir de histórias por outros cantos. Publiquei um tempo atrás uma matéria
sobre um anime – Fate Stay Night – E
fiquei meio receoso que os grupos que participo não tivessem muita afinidade
com eles. A surpresa ao abrir o facebook e ver inúmeros comentários no grupo
literário foi tão grande que eu passei a entender que há muita gente que ama no
final das contas a história, não importa o meio que ela é produzida. Sou
a prova viva, em que achava que não conseguiria acompanhar o quadrinho e as
falas de uma HQ... então me
surpreendi por encontrar uma fascinante história e um maravilhoso quebra-cabeça
entre imagem, quadros, cores e falas, pois tinha certeza que havia fortes
relações entre si. O trabalho que o roteirista e o desenhista em conjunto fazem
é algo tão surpreendente que é praticamente único de histórias em quadrinhos.
Agora,
se você já abriu o seu leque e mergulha em qualquer tipo de história, está na
hora de começar a perceber a interligação entre essas artes e como isso
acrescenta em muito numa obra. Veja por exemplo em Watchmen, quando o Coruja
e o Rorschach chegam a antártica e esse
último diz que estão indo rumo ao Coração das Trevas, citação claríssima de uma
grande obra de Joseph Conrad “ O
Coração das Trevas”, representando a
viagem rumo ao coração da África negra, um lugar obscuro e que aguarda um
grande porém aos protagonistas. Esse exemplo demonstra que não há porque ter
rixa, de preferir um ao outro, pois, no final das contas elas se completam,
transformando símbolos escritor (ou imagens) em uma representação que preenche
um sentindo único. Esses pequenos
detalhes podem sem dúvida fazer uma obra ser importante para você; que faz um
contador de histórias um grande mago de sua época.
Conheci
o poeta William Blake e seu poema “The Tiger”* assistindo a série policial The
Mentalist; e ao ler na intriga passei a entender toda a metáfora que se criou
ali. Talvez alguém logo me critique ao expor a ideia de que é essencial
variarmos, navegar em águas nunca antes vistas e sentidas, mas, após
experiências próprias, coloco em um pedestal a importância de experimentar a
pluralidade das formas que é contada uma história, vestir a camiseta da
diversidade literária, das mídias em que ela é produzida e distribuídas, seja HQs, filmes, séries, livros, poemas.
Ao
ler ou ver a história a sua frente, no final, pergunte-se...
* Que mão, que espantosos pésPuderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou?
Tratemos do criador do cordeiro como aquele
grande mestre da literatura, como Neil Gaiman, famoso não apenas pelos seus
livros e contos, mas muitíssimo pela sua obra tão aclamada que é Sandman, uma
graphic novel premiada e vangloriada tanto pelos fãs do autor como pelos de HQs
em geral.